sexta-feira, 15 de junho de 2018

Tafsir da Surah Al Kafirun - Dos Incrédulos

Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso Louvado seja Allah, e que a bênção e a paz estejam com o nosso Profeta Muhammad, com os seus familiares, e com todos os seus companheiros.

Desencontro dos Caminhos
Embora os árabes antes do Islam não negassem Deus por completo, eles não O conheciam por Sua verdadeira identidade, como o Único e o Eterno. Eles não mostravam qualquer verdadeira compreensão de Allah (سبحانه و تعالى), nem adoravam-nO corretamente. Pelo contrário, atribuíram a Ele, como parceiros, ídolos que deveriam representar os seus grandes e piedosos ancestrais, ou, em alguns casos, os anjos que eles afirmavam ser filhas de Allah (سبحانه و تعالى).
Além disso, alegaram um parentesco entre Allah (سبحانه و تعالى) e os jinn. Muitas vezes eles ignoraram essas qualificações e adoraram os próprios ídolos. Mas, em todos os casos, alegaram, como é citado no Alcorão, que "não os adoramos senão para que eles nos aproximem bem perto de Allah" (39: 3). O Alcorão também afirma: "E se lhes perguntas: ‘quem criou os céus e a terra e submeteu o sol e a lua?’” (29: 61). E mais uma vez: "E, se lhes perguntas: ‘Quem faz descer água do céu, e, com ela, vivifica a terra depois de morta?’” (29: 63). Além disso, Deus substituiu suas divindades em seus juramentos e súplicas .
Mas, apesar de sua crença em Allah, o politeísmo deles os entreteve sujando seus conceitos, tradições e ritos, na medida em que eles atribuíam às suas supostas divindades uma parte de seus ganhos e posses, e até mesmo os seus descendentes. Na verdade, eles eram, por vezes, forçados a sacrificar seus filhos. A respeito disto, o Alcorão tem o seguinte a dizer: Do que Allah tem produzido em abundância, quanto às semeaduras e ao gado, eles Lhe destinam um quinhão, dizem, segundo as suas fantasias: Isto é para Allah e aquilo é para os nossos parceiros! Porém, o que destinaram a seus parceiros jamais chegará a Allah; e o destinado a Allah chegará aos seus (supostos) parceiros. Que péssimo é o que julgam! Todavia, aos olhos da maior parte dos idólatras, seus "parceiros" tomaram fascinante o assassinato de crianças, a fim de os conduzirem à sua própria destruição ; porém, se Allah quisesse, não o teriam feito. Deixa-os, pois, com tudo quanto forjam. Eles dizem que tal e tal gado e que tais semeaduras são proibidos, e ninguém deverá consumi-los, exceto aqueles (assim dizem) que desejarmos; ademais, há animais aos quais estão proibidos a canga e a carga, e sobre os quais (no abate) o nome de Allah não foi invocado; forjam mentiras acerca d’Ele, o Qual os castigará por suas invenções. Dizem ainda: O que há nas entranhas destes animais é lícito exclusivamente para os nossos varões e está vedado ás nossas mulheres; porém, se a cria nascer morta, todos desfrutarão dela! Ele os castigará por seus desatinos, porque é Prudente, Sapientíssimo. São desventurados aqueles que, néscia e estupidamente, matam seus filhos, na sua cega ignorância , e se descartam daquilo com que Allah os agraciou, forjando mentiras a respeito de Allah. Já estão desviados e jamais serão encaminhados” (6: 136-140).
Os árabes também estavam convencidos de que eles eram os seguidores da religião de Abraão e que eram mais bem guiados que o povo que havia recebido as revelações anteriores [ou seja, sou judeus e cristãos] que habitavam a Península Arábica no momento: os judeus e os cristãos pregavam, respectivamente, que Esdras e Jesus foram os filhos de Allah (سبحانه و تعالى) enquanto eles, os árabes, adoravam anjos e gênios – e os consideravam a verdadeira descendência de Allah (سبحانه و تعالى). Sua crença era mais lógica e concebível que a dos cristãos e judeus. No entanto, todos praticavam uma forma de idolatria. Quando Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) declarou que sua religião era a mesma de Abraão, eles argumentaram que não havia razão para que abandonassem suas crenças e seguissem Muhammad, já que eram da mesma religião. Nesse meio tempo, eles buscaram uma espécie de compromisso com o Profeta Muhammad, propondo que ele se prostrasse diante de suas divindades em troca da prostração deles ao seu Deus, e que ele deixasse de denunciar suas divindades e forma de culto em retribuição a tudo o que lhes fora exigido! Essa confusão em seus conceitos, vividamente ilustrada pela adoração a várias divindades, embora reconhecendo Allah (سبحانه و تعالى), foi, talvez, o que os levou a acreditar que o abismo entre eles e Muhammad não era intransponível. Eles pensaram que um acordo era, de alguma forma, possível, permitindo que os dois campos coexistissem na região concedendo-lhe algumas concessões pessoais!
Para esclarecer essa confusão, cortando todos os argumentos superficiais e distinguir firmemente entre uma forma de adoração e outra, e de fato entre uma fé e outra, este capítulo foi revelado em um tom tão decisivo, assertivo. Foi revelado desta forma a distinguir o monoteísmo, Tawhid, do politeísmo, shirk, e estabelecer um verdadeiro critério, não permitindo mais nenhuma disputa ou argumentos vãos. "Dize: Ó Renegadores da fé! Não adoro o que adorais. Nem estais adorando o que adoro. Nem adorarei o que adorastes. Nem adorareis o que adoro. A vós, vossa religião, e, a mim, minha religião” (Versículos 1-6). Após uma forma de negação, então a afirmação e a ênfase; o capítulo define sua mensagem com clareza absoluta. Ela começa com a palavra, "Dize", o que denota uma ordem divina clara, ressaltando o fato de que toda a questão da religião pertence exclusivamente a Deus. Nada disso pertence ao próprio Profeta Muhammad, saws. Além disso, implica que Deus é o Único capaz de ordenar e decidir. Aborde-os, Muhammad, por sua real e verdadeira identidade: "Dize: Ó Renegadores da fé" (Versículo 1). Eles não seguem nenhuma religião prescrita, nem acreditam em ti. 

Não há ponto de encontro existente entre tu e eles, em qualquer lugar. Assim, o início da Surah traz à mente a realidade da diferença que não pode ser ignorada ou esquecida. "não adoro o que adorais," é uma declaração confirmada por "nem adorarei o que adorastes". Da mesma forma, "nem estais adorando o que adoro" é repetido para enfatizar e eliminar qualquer dúvida ou má interpretação. Finalmente, todo o argumento é resumido no último verso: "A vós, vossa religião, e, a mim, minha religião", o que significa que, incrédulos, e eu, Muhammad, estamos muito distantes um do outro, sem qualquer ponte que nos conecte. Esta é uma distinção completa e, uma demarcação precisa e inteligível. Tal atitude foi essencial, então, a fim de expor a fundamental discrepância na sua essência, fonte e conceitos das duas crenças, ou seja, entre monoteísmo e politeísmo, entre a fé e a incredulidade. A fé é o modo de vida que orienta o homem e o mundo inteiro somente a Deus Único e determina a fonte da religião, das leis, dos valores, dos critérios, da ética e da moralidade. Essa fonte é Deus. Assim, a vida continua para o crente, desprovida de qualquer forma de idolatria. Idolatria por outro lado é o oposto da fé. Fé e idolatria nunca se encontram.

No conjunto, a distinção que estamos tratando aqui é indispensável tanto para aqueles que chamam as pessoas a aceitar o Islam, quanto às próprias pessoas, pois conceitos da Jahiliyyah são, muitas vezes, misturados ao Islam nas sociedades que anteriormente seguiam o modo de vida islâmico e, posteriormente, desviaram-se. Dentre todas as comunidades, estas são certamente as mais rígidas e hostis à ideia de recuperar a fé em sua forma saudável, clara e direta, certamente mais do que aquelas que não conheceram o Islam originalmente. Elas consideram-se certas e justas, ao passo que cresceram mais e mais perversas!
A existência de crenças e pensamentos nobres nessas sociedades, ainda que maculados, pode levar o defensor do sistema islâmico à esperança de um rápido retorno, pensando que seria capaz de fortalecer esses bons aspectos e corrigir essas características indesejáveis! Essa tentação é, no entanto, perigosamente enganosa. A Jahiliyyah e o islam são duas entidades completamente diferentes, separadas por um grande abismo. A única forma de superar esse abismo é a Jahiliyyah se destruir completamente e substituir todas as suas leis, valores, normas e conceitos aos seus homólogos islâmicos.
O primeiro passo que o da’i (quem convida ao Islam) deve ser tomar, neste sentido, é isolar-se da Jahiliyyah. Ele deve se separar absolutamente, pois qualquer acordo ou relação entre ele e Jahiliyyah é impossível, a menos ou até que o povo de Jahiliyyah abrace o Islam completamente: nenhum entrelaçamento, relações ou conciliações são permitidos. No entanto, a oportunista Jahiliyyah pode usurpar o papel do Islam. A principal característica de uma pessoa que convida os outros a adotarem o Islam é a clareza desse fato dentro de si mesmo e sua convicção solene de ser diametralmente oposto àqueles que não compartilham sua visão. Eles têm a sua própria religião, e ele tem a dele. Sua tarefa é mudar o ponto de equilíbrio dos outros para que possam seguir o seu caminho, sem falsa pretensão ou compromisso. Caso contrário, ele deve se retirar completamente, desligar-se de sua vida e abertamente declarar-lhes: "A vós, vossa religião, e, a mim, minha religião” (versículo 6).
Esta é uma condição sine qua non para os defensores contemporâneos do Islam. Eles precisam urgentemente perceber que estão chamando para o Islam hoje em um ambiente inteiramente “neo-Jahiliyyah”, entre ex-muçulmanos cujos corações têm endurecido mais e mais, e cujas crenças se deterioraram consideravelmente. Precisam entender que não há espaço para curto prazo ou soluções ou compromissos paliativos e resgates ou ajustes parciais. Seu chamado é para um único e singular Islam, em contraste com a velha concepção de tais pessoas. Devem enfrentar essas pessoas bravamente e colocar explicitamente: “você tem sua própria religião, e nós temos a nosso”. Nossa religião é baseada no monoteísmo absoluto cujos conceitos, valores, crenças e leis abrangem todos os aspectos da vida humana e todos são oriundos de Deus e mais ninguém.
Sem essa separação básica e confusa, a dupla negociação, a dúvida e a distorção certamente persistem. E que fique claro em nossas mentes que o movimento que defende o Islam nunca pode ser construído sobre fundações ambíguas ou fracas, mas deve ser construído em cima de firmeza, clareza e franqueza, conforme constam da instrução de Deus ao declarar: "A vós, vossa religião, e, a mim, a minha religião" (versículo 6). Essa foi a forma adotada pela mensagem islâmica, nos seus primeiros dias.

Fonte: oislam.org

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